Casamento E Família No Islam

P – Nós podemos começar com a pergunta: As pessoas precisam realmente viver em sociedade e constituir famílias? Não podemos simplesmente viver sozinhos?

Estar sozinho é algo verdadeiramente apropriado apenas para Allah, O Todo-Poderoso. O Criador reservou apenas para Si próprio a Unicidade, ao passo que Ele criou toda a existência em pares. Desta forma, todas as criaturas estão ao mesmo tempo em necessidade umas das outras. Por serem criadas, elas possuem uma fraqueza e uma deficiência intrínseca na sua natureza. Ma siwa Allah, “o outro além de Allah” – todos os seres exceto Allah, O Todo-Poderoso – estão continuamente em necessidade uns dos outros e de Allah, O Todo-Poderoso.

De todas as criaturas, os seres humanos são os que mais precisam uns dos outros. Os humanos possuem tantas necessidades quando comparados com outros seres! Por sempre querermos viver em conforto material e espiritual, nossas necessidades aumentam constantemente e nunca chegam ao fim. Problemas, privações, dores, sofrimentos e desastres; tudo isto são dificuldades para nós. Em tempos turbulentos, nós procuramos por um companheiro que nos ofereça um abrigo e uma mão amiga.

O descendente de Adão é indicado em árabe pela palavra insan, que é derivada da palavra uns ou unsiyya, significando intimidade. Até mesmo a filologia demonstra a nossa necessidade de estarmos próximos de nossos companheiros! Esta necessidade é nossa primeira qualidade e os humanos são distinguidos por esta qualidade.

A manifestação mais clara de intimidade é a proximidade que une o homem e a mulher. E isto é necessário, até mesmo obrigatório, para a continuação das gerações humanas.

A necessidade de proximidade se manifesta nos seres vivos através da existência de machos e fêmeas, e em seres inanimados através da existência de pólos positivos e negativos. Esta situação é relatada no Qur´an em muitos versículos:

“E criamos um casal de cada espécie, para que mediteis.” (51:49)

“Glorificado seja Quem criou pares de todas as espécies, tanto naquilo que a terra produz como no que eles mesmos geram, e ainda mais o que ignoram.” (36:36)

“E Nós não vos Criamos em pares?” (78:78)

Ter sido criado em pares complementares, significa ser criado como homem e mulher, não como dois da mesma espécie. Neste caso, a criação de somente um dos dois seria redundante, e a redundância não pode ser atribuída a Allah, O Todo-Poderoso. Como resultado, Allah Fez a criação em casais divididos por gênero. Mesmo assim, cada indivíduo criado é único em si próprio. Allah não Cria seres duplicados, exatamente iguais. Até mesmo gêmeos idênticos possuem muitas diferenças físicas e espirituais.

Então, Allah, O Todo-Poderoso, Criou todos os seres em pares complementares e simultaneamente colocou entre eles a lei divina de atração, de modo a torná-los mais próximos um do outro. Pois Ele assinalou o desenvolvimento material e espiritual de todos esses pares para a unificação possível entre eles.

Embora a necessidade e atração que um homem sente por uma mulher, e uma mulher por um homem sirvam essencialmente a procriação, este não é o seu único propósito. Uma das suas funções mais significativas é formar a base das famílias estáveis, que criam um ambiente que permite aos indivíduos atingir a paz social e espiritual, bem como o equilíbrio. Este objetivo pode ser alcançado apenas através do muhabatullah, a inclinação do coração para Allah, O Todo-Poderoso, com amor.

Às vezes, o amor por Deus pode ser adquirido através do amor terreno: o amante ascende desde Leila (o arquétipo humano do ser amado) até Mawla (O Senhor – o amado divino). Mas para esta jornada ser possível, deve existir uma Leila (sic) antes de tudo! Aí então o amor entre homem e mulher pode vir a constituir o primeiro passo na aproximação a Allah. Mesmo se a atração começa com o florescimento de desejos egoístas, ela não pode se tornar amor humano verdadeiro até que ela seja liberta daqueles desejos egoístas. Quando a mútua compreensão dos atributos divinos é manifestada nos amantes, só então nós chamamos à atração, amor.

O coração, que é o centro sutil de atração, é exercitado e fortalecido através da afeição do casal um pelo outro e desta forma ganha capacidade para o amor de Allah. A habilidade para manter o amor divino é posteriormente desenvolvida através do amor pelos filhos, os frutos naturais de uma família.

Para ser envolvido pelo amor por Allah, um casamento precisa ser fundamentado sobre princípios divinos. Um casamento realizado puramente pelas inclinações e desejos carnais normalmente não cria amor. O desenvolvimento espiritual e o treinamento do coração através do amor, que é o que se espera de um casamento islâmico, não pode ser realizado em famílias estabelecidas apenas pela luxúria, porque em tais casamentos os casais se tornam escravos. Esqueça o progresso espiritual: estes casais podem até mesmo perder os níveis espirituais que eles desfrutavam enquanto eram solteiros.

Um casamento desejável é aquele que nos amadurece e nos ajuda a melhorar espiritualmente. Um relacionamento que funciona desta maneira manifesta uma perfeição ideal. É este tipo de casamento que é chamado, nas tradições do Profeta (SAAS), “metade da religião”. Atingir a metade de algo não significa que nós temos que desistir de procurar a outra metade! Devemos fazer tudo que pudermos para realizarmos os atributos ideais de um casamento. Só então poderemos atingir a maturidade, paz e tranquilidade que almejamos.

Embora o relacionamento íntimo entre homem e mulher seja um caminho para se atingir a capacidade para o Amor Divino, ele não é o único caminho. Pessoas solteiras podem e fazem progresso espiritual. Há muitas pessoas solteiras e piedosas mencionadas no Qur´an, começando por Maria e Jesus (que Allah esteja satisfeito com eles). Este fato confirma que nem todos são criados com as mesmas habilidades naturais. O ambiente também causa efeitos diferenciados de acordo com as pessoas. No destino de alguns, os caminhos para o casamento estão fechados; obstáculos contra o casamento podem se constituir em um teste divino para eles. Para outros, o casamento pode ser uma fonte de sofrimento e desapontamento. Allah, O Todo-Poderoso, Confere certas habilidades especiais para aqueles servos que passaram por estes testes e através destas capacidades, eles podem obter os benefícios espirituais a serem esperados de um casamento normal. Alguns servos de Allah que são solteiros fizeram grande progresso espiritual através da sua misericórdia e compaixão com as plantas e animais. Outros ascenderam os passos da espiritualidade suportando os testes dos seus casamentos. Os As-hab ul Suffah, que eram os Companheiros do Profeta que eram pobres demais para se casar, atingiram o ápice da espiritualidade através do conhecimento e do aprendizado. Não deve ser esquecido, entretanto, que estes são casos excepcionais e especiais. A regra geral é que os seres humanos devem se casar e começar uma família feliz.

É fato que um coração sem amor e afeto é como um campo não cultivado, deixado em repouso por um longo tempo. A relação entre homem e mulher irá cultivar esta terra. Claro, para ter sucesso este relacionamento não pode ser baseado em sentimentos egoístas. O sucesso pode ser atingido apenas se nos livramos destas motivações egoístas. Como havíamos dito, um relacionamento íntimo e natural volta a sua direção para o amor divino, porque apenas quando a conexão entre homem e mulher adquire esta qualidade divina, as almas ascendem em direção ao amor por Allah. Ter filhos neste estado constitui o segundo nível nesta ascensão no amor por Allah. Depois vem o amor pelos parentes, amigos, professores e outros. Então o coração amadurece, passo por passo, se aproximando do seu mais alto objetivo, o amor divino. Após se tornar um com o amor divino, o servo se junta aos amigos de Allah, O Todo-Poderoso. Este é o propósito da criação da humanidade.

Em suma, a nossa necessidade de família e de proximidade física entre homem e mulher é uma realidade embutida em nossas naturezas pelo nosso Criador de modo a realizarmos um objetivo maior. Quanto mais realizarmos este objetivo, mais crescerão os galhos da árvore familiar, ostentando frutos de paz social, tranquilidade e equilíbrio.

Desta forma, o estabelecimento de um ambiente de paz familiar está no topo da lista das tarefas mais importantes para elevarmos a sociedade a um nível civilizado. O homem e a mulher fazem promessas um para o outro, em nome de Allah, O Todo-Poderoso, porque elas sinalizam as suas intenções de fazer do amor uma realidade em acordo com o propósito das suas criações. Obviamente, o respeito mútuo, a confiança e a sinceridade devem alimentar os seus esforços!

P – O que as tradições islâmicas dizem a respeito da família?

Por causa dos motivos acima mencionados, os pensadores do Islã têm atribuído uma grande importância à família. A família é a semente da sociedade. É fato histórico que as famílias construídas sobre bases sólidas protegem e embelezam a estrutura da sociedade, ao passo que as famílias formadas a partir de casais com níveis desiguais de espiritualidade, a destroem.

Os princípios e as normas islâmicas trabalham para o estabelecimento de uma vida familiar feliz e equilibrada. Pode-se mesmo dizer que o Islam procura atingir a paz e a tranquilidade através da família. Por este motivo é dito que “o lar é o paraíso dos que ainda vivem”. De fato, um lar fundado de acordo com as leis divinas é como o Paraíso na Terra.

Como esta instituição nobre e ideal só pode ser atingida através de medidas exaltadas e fundamentos legais baseados no amor, o Islam começa esta jornada espiritual com votos mútuos. A lei islâmica requer do casal promessas mútuas em nome de Allah, O Todo-Poderoso.

O velho ditado “o casamento faz milagres”, aponta os benefícios e a importância do casamento no estabelecimento de uma família pacífica. O valor dos nossos atos depende das nossas intenções. O resultado da vida a dois sem o casamento, sem uma troca mútua de votos que expressem as nossas intenções, é decepção e ruína não apenas a nível pessoal, mas também da sociedade como um todo. Por isto o Islam proíbe coabitar sem estar casado, o que é visto como um pecado grave. Haverá uma punição severa para estas práticas na Outra Vida.

P – Como o casamento é tão importante, você poderia elaborar a resposta um pouco mais?

O casamento é o caminho dos profetas, a prática do Mensageiro de Allah (a paz e as bênçãos estejam sobre eles), a dignidade do homem e da mulher e o privilégio dos seres humanos sobre as outras criaturas.

É necessário que haja duas testemunhas masculinas para um contrato de casamento de modo a anunciá-lo para a sociedade. A união do homem e da mulher é o elemento base de socialização e, portanto, o começo desta união deve ser publicizado. Demonstrar nossas intenções nem sempre requer a presença de testemunhas, entretanto elas são necessárias em um contrato de casamento, para que a união seja aceita como um fato consumado por toda a comunidade. Um homem e uma mulher solteiros podem sempre receber propostas, mas quando um casal anuncia o seu casamento, as propostas cessam e os cônjuges passam a pertencer um ao outro. Esta é a base de uma família e de uma sociedade saudáveis. É por este motivo que é costume realizar-se uma festa de casamento: Ela faz com que toda a comunidade testemunhe o casamento, mesmo que para se validar um contrato duas testemunhas sejam suficientes. As cerimônias de casamento são celebradas não apenas para se partilhar a alegria dos noivos, mas também para declarara sua nova condição para a comunidade. Portanto, podemos concluir que o casamento, com todas as suas particularidades, é uma ordem divina voltada para a proteção da dignidade humana.

Segundo o Islam, o casamento é a base indispensável de uma família. Ele faz com que os filhos sejam criados com educação, disciplina, preservação de valores e dignidade humana. Como o Islam confere uma importância muito grande à família, nada, por mínimo que seja, que ataque esta instituição é aceito. Por isto, o Islam proíbe o adultério, que é a pior de todas as relações extraconjugais, porque ele constitui um ataque ao refinamento, beleza e legalidade do acordo matrimonial, assim como também é um crime terrível que destrói a descendência familiar. Não existe ato mais tolo e ignorante do que preferir a indecência do adultério à tranquilidade e paz do casamento. Por este motivo, as ruas de nenhum país deveriam estar poluídas com imagens de imoralidade glorificando este desastre.

Não deve ser esquecido que a base sobre a qual uma nação se ergue ou desaba é a força da sua estrutura ética e moral. O casamento é o método mais efetivo de proteção desta estrutura. Por esta razão, o Mensageiro de Allah ( SAAS) alertou os muçulmanos para não tornar o casamento algo difícil, ao dizer: “As melhores cerimônias de casamento são aquelas mais simples”. (Abu Dawud, Nikah, 32) Portanto, todas as despesas costumeiras que sobrecarregam a cerimônia de casamento, são completamente desnecessárias e vazias. Elas são o remanescente da era da ignorância anterior ao Islam.

Allah, O Todo-Poderoso, quer que seus servos vivam em castidade e tranquilidade. O modo mais efetivo de proteger a castidade é o casamento. Aqueles que possuem meios suficientes para casar devem se casar e a comunidade islâmica tem a responsabilidade de ajudar aqueles que não possuem os meios necessários para se casar. Isto está escrito na seguinte passagem corânica:

“Casai os celibatários, dentre vós, e também os virtuosos, dentre vossos servos e servas. Se forem pobres, Deus os enriquecerá com Sua graça, porque é Munificente, Sapientíssimo.” (24:32)

No Império Otomano, fundações religiosas especiais foram estabelecidas para este propósito. Os seus fundadores estavam bem cientes de que a ordem e a moralidade de uma sociedade dependem de indivíduos castos e pacíficos.

Muhyiddin ibn ‘Arabi (que Allah abençoe sua alma) disse a respeito dos méritos de se auxiliar pessoas a se casarem: “A melhor caridade contínua é ajudar as pessoas a se casarem, pois para aqueles que ajudam haverá uma parte das recompensas das boas ações dos descendentes dos casais que eles ajudaram a casar”.

A vida em família, que começou com Adão e Eva (que a paz esteja sobre eles) no Paraíso foi transferida para os filhos de Adão através das leis divinas do casamento e o Islam deixa isto claro. A religião islâmica possui princípios específicos para a vida familiar, e assim a paz do Paraíso foi trazida para o seio das famílias muçulmanas. Para atingirmos esta felicidade, devemos seguir as leis de Allah, O Todo-Poderoso, e vivermos em família da mesma forma que Adão e Eva. Devemos nos abraçar com amor e sermos uma só alma e um só coração, assim como nosso pai Adão e nossa mãe Eva um dia foram.

Embora costumemos dar pouca importância, o fato de duas pessoas estranhas se unirem pelo casamento é algo fantástico que possui uma sabedoria profunda. Duas almas jovens deixam a casa dos seus respectivos pais, e crescem unidas com um amor e um afeto que foi posto por Allah em seus corações. Quão elevada manifestação divina! Ver uma incrível proximidade se desenvolver entre duas pessoas estranhas. Este mistério é realmente uma lição sagrada, merecedora de reflexão.

Allah, O Todo-Poderoso, fez do casamento um portal de bênçãos para a comunidade muçulmana e Ele fez de cada casamento, realizado de acordo com o Qur´an e a Sunna, um paraíso de felicidade na Terra.

O Islã, que tem por objetivo criar uma vida digna para toda a humanidade, confere a mais alta importância às mulheres e aponta os problemas que podem advir se elas foram negligenciadas. As mulheres são como candelabros de cristal. Quando o casamento delas é cheio de bênçãos e luz, elas iluminam a sociedade. Elas protegem a dignidade e a castidade da família, e são como faróis que iluminam a neblina do pecado. Quando o que acontece é o oposto disso, gerações inteiras são perdidas. Gerações perdidas quebram os elos de relações interpessoais e a transmissão de sabedoria; este processo termina com a destruição da sociedade. A maldade se torna comum; a sensibilidade e humanidade deixam de existir; aumentam os problemas e escândalos. Todos estes são sinais de uma comunidade em colapso.

A felicidade das mulheres se torna possível quando há gentileza no casamento. Quando não é assim, a mulher por vezes se distrai do casamento. Se uma mulher se afasta do seu principal objeto, neste caso o casamento, a sua infelicidade irá destruir a paz familiar. A participação da mulher no mundo do trabalho segue a necessidade; se ela trabalhar, ela precisa estar em um emprego que se adeque à sua natureza. O grau de necessidade deve ser avaliado objetivamente, levando em consideração as necessidades de toda a comunidade. O emprego precisa estar dentro de limites razoáveis e lícitos. Qualquer coisa além disso é auto-decepção, que termina em frustração e desapontamento. Muitas muçulmanas têm se perdido no redemoinho da imprudência. Muitos olhos, enganados por visões de mundo ilusórias, têm sido cegados para a verdade divina, destruindo assim as suas próprias possibilidades de felicidade.

Os pensadores do Islam têm conectado a glória e a identidade moral e social das mulheres, ao seu bem estar marital. A mulher entra em um mundo completamente novo através do casamento. Talvez ela comece a conviver com um completo desconhecido, talvez com seus parentes. Entretanto, com a bênção especial que Allah confere ao casamento, estas duas almas estranhas uma à outra passam a ser tão unidas que se tornam as pessoas mais próximas no mundo. De fato, isto está estabelecido no seguinte versículo:

“Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos.” (30:21)

Portanto, o fator mais importante para que haja felicidade em uma família é o amor, a sinceridade e a misericórdia que existem entre marido e mulher.

P – Nem sempre é possível atingir tal felicidade em todas as famílias. É um sinal de grande bênção chegar a este nível de tranquilidade e satisfação. Com o que devemos ser cuidadosos para chegarmos a este nível de felicidade?

A primeira condição é seguir as diretrizes islâmicas para a escolha de um cônjuge adequado. A essência destas diretrizes é que os crentes não devem selecionar seus cônjuges baseados nas belezas temporárias deste mundo, como beleza física e riqueza. Em vez disso, esta seleção deve estar baseada em qualidades espirituais, tais como fé e a moral. A este respeito, o Profeta (SAAS) disse:

“A mulher se casa por quatro motivos: sua riqueza, sua origem, sua beleza e sua religiosidade. Tentem casar com aquela que for religiosa; que a sua mão possa ser perfumada pela bondade!” (Bukhari, Nikah, VI, 123; Muslim, Rada, 53)

Embora esta tradição aborde as qualidades de uma esposa ideal, também é aplicável na escolha de um marido ideal, porque ter um cônjuge virtuoso vem em segundo lugar, no rol das coisas valiosas que todo muçulmano deve ter, logo após da piedade. Um marido virtuoso é o pilar inquebrantável do palácio do lar, e uma esposa virtuosa é o ornamento mais formoso deste palácio. Isto está expresso no seguinte dito do Profeta (SAAS):

“A posição das pessoas está oculta em sua religião; a sua dignidade está oculta em sua razão, e a beleza da sua descendência está oculta na qualidade da sua moral (protegida pelo casamento)”.

O segundo ponto importante é ser cauteloso em relação à equivalência entre os cônjuges. A igualdade precisa ser avaliada de acordo com qualidades como riqueza, educação e nível cultural. O que vem depois disso depende da maturidade e da força de vontade. A maturidade se desenvolve através da busca da perfeição na fé e na prática; a força de vontade pode ser conquistada seguindo-se as leis divinas e suas proibições.

Uma família pacífica, na qual as ordens e proibições de Allah são seguidas, é a base da alegria neste mundo e uma das maiores bênçãos de nosso Senhor. A permanência desta bênção e desta felicidade depende da união do casal em um ambiente religioso, onde prevalece a doação e a compreensão mútua.

Atualmente, a fonte mais significativa de erosão da família tradicional são as mulheres que procuram se assemelhar aos homens, e os homens que tentam se assemelhar às mulheres. Allah, O Todo-Poderoso, dotou os homens e as mulheres com qualidades distintas. Estas qualidades são formadas de modo a que ambos possam dar o melhor de si para a sociedade. As qualidades naturais dos sexos, desde a aparência física até às características psicológicas, são estruturadas de acordo com as responsabilidades que Allah, O Todo-Poderoso, designou para cada um.

Os homens precisam de força física e espiritual de forma a prover a família e liderá-la. Já as mulheres não possuem a responsabilidade desta provisão. E se elas são forçadas a tal, isto constitui uma opressão, porque as mulheres não foram criadas para ganhar o sustento da família, mas para criar e proteger os filhos. Entretanto, se o ambiente e as condições de trabalho são adequadas, as mulheres podem trabalhar em funções que estejam de acordo com as suas naturezas, como lecionar em uma escola corânica para meninas, ou então como ginecologista.

Embora o homem e a mulher sejam diferentes, as suas habilidades naturais fazem com quem ambos sejam complementares. Quando os casais transgridem os limites impostos por esta natureza, a felicidade da família é afetada.

Não devemos deixar de mencionar também que a autoridade masculina na família, não dá a nenhum homem o direito de usar a força bruta, e a obediência feminina não deve ser sinônimo de escravidão. Se tanto o homem quanto a mulher cumprirem seus papéis tradicionais em acordo com os princípios islâmicos, não haverá nem opressor nem oprimido na família.merym

A rebeldia da mulher em relação ao marido, através da violação dos princípios da castidade e obediência, bem como o abuso de autoridade pelo marido em nome de seus desejos egoístas, ambos podem destruir a família. O homem, muitas vezes, pode passar por situações de stress no trabalho. Quando isto acontece, não é apenas uma necessidade, mas ele possui o direito de encontrar uma esposa compreensível e consoladora em casa. Por outro lado, é tanto um direito quanto uma da necessidade da esposa que aguarda pelo seu marido em casa o dia inteiro, que ela encontre simpatia e afeto quando o mesmo voltar do trabalho. Cada membro da família precisa conhecer os seus direitos e responsabilidades diante de Allah, O Todo-Poderoso. Os únicos valores que podem manter a felicidade e a alegria na família são o respeito e o amor mútuo.

Não podemos esquecer o ditado de nossos antepassados: “A fêmea do pássaro é quem constrói o ninho”. As mulheres realmente possuem um papel mais atuante na proteção da família. Por isto, a intuição feminina, bem como a compreensão e os esforços empregados pela mulher nesta tarefa, carregam mais importância que aqueles do homem. Allah dotou as mães com mais sabedoria emocional e habilidades do que os homens.

Ismail Hakki Burservî diz a respeito da interpretação do termo “al-tara´ib” da Sura 86 do Qur´an, “Quando uma criança cai em um rio, sua mãe pula no rio, não importa o quão perigoso seja, e faz tudo o que ela pode para salvar o seu bebê. O pai da criança, por outro lado, não age assim. Se não há esperança para o bebê, o pai simplesmente senta à margem do rio e chora.”

Obviamente, este heroísmo é válido somente para aquelas mães que não perderam suas qualidades espirituais. Essa atitude não é encontrada naquelas mães sem coração que abandonam seus filhos em frentes às mesquitas ou no interior dos cemitérios. Elas são como almas arruinadas que destruíram todas as boas qualidades com que foram dotadas.

A compaixão da maternidade é visível até mesmo no reino animal, algumas vezes de forma memorável. Conta-se que uma leoa e um filhote de veado conviveram fantasticamente próximos um do outro no Parque Nacional Samburu, no Quênia, entre 21 de Dezembro de 2001 e 2 de Janeiro de 2002. A sua relação era como de mãe e filho. O cordão umbilical do veado ainda estava preso a ele quando foi fotografado pela primeira vez. Teria a leoa sentido pena do filhote de veado perdido? Em todo caso, ela o adotou. O veado, também, se comportou como se a leoa fosse sua verdadeira mãe. Como fosse impossível para o filhote se alimentar do leite da leoa, esta o alimentou com folhas, em vez de carne – como se ela soubesse que ele não era um filhote de leão.

Um dia a mãe do veado apareceu, procurando por seu filhote. Quando ela o viu com uma leoa, ela ficou confusa, mas não correu. Ela começou a emitir sons, como se quisesse comunicar com o seu filhote. Este, por sua vez, se aproximou da sua verdadeira mãe e eles pastaram juntos. Entretanto, a leoa não permitiu que eles se afastassem mais. A leoa intervinha a todo momento em que o pequeno veado parecia querer ir embora. Teria a felina amado tanto aquele filhote que ela não poderia deixá-lo ir embora com sua verdadeira mãe? Ela lambeu o veado e brincou com ele como se fosse sua própria cria. No entanto, depois de um tempo, por alguma razão – talvez por ela ter reconhecido que o filhote precisava da sua verdadeira mãe – ela o deixou ir embora com sua progenitora. Infelizmente, não demorou muito para que um leão percebesse o frágil e indefeso veado e o matasse. A leoa apareceu para lamentar o ocorrido no mesmo local em que o filhote foi morto.

Que cena inacreditável! Foi uma grande manifestação do dom divino da maternidade superando até mesmo a inimizade existente entre presa e predador. Este é um dos sinais de Allah, O Todo-Poderoso, pois a maternidade é a manifestação de um milagre divino.

Existem muitas lições para nós neste incidente. A mãe é verdadeira mãe não por causa de um fator biológico, mas por um fator espiritual. Se uma mulher abrir mão disso, então ela não é mais um monumento de misericórdia nem uma mãe. Pelo contrário, ela se torna uma predadora, que destruirá muitas almas jovens. Sendo assim, as mulheres devem proteger e valorizar a maternidade, mais do que meramente como uma simples reprodução animal. Para as outras criaturas, não haverá nenhum questionamento sobre as suas descendências na Outra Vida. Mas para os seres humanos sim.

Os nossos filhos testemunharão ou a favor de nós, ou contra nós no Dia do Juízo. Eles devem ser criados com todo cuidado, pois eles também são meios pelos quais adentramos o Paraíso. Uma boa educação religiosa, boas maneiras, educação moral e consciência das obrigações para com Allah, vêm no topo da lista do que se deve ensinar para os filhos.

P – Em nossa sociedade, os jovens que planejam se casar, passam primeiramente um bom tempo como noivos. Neste período, costumam ocorrer diversos problemas. Com o quê os casais devem tomar cuidado durante o noivado?

A questão central, como tentamos explicar, é a necessidade de se construir uma família sob uma base sólida e saudável. Este princípio deve estar em mente não somente durante o período de noivado, mas ao longo do casamento. As medidas e regras divinas precisam ser observadas em todos os estágios. Infelizmente, em nosso tempo muitos casais enxergam o noivado como uma permissão para agir como se eles estivessem casados. Isto leva a um número irreparável de erros e a corações partidos.

Nós realmente precisamos lembrar que o noivado é somente a fase na qual se faz o acordo para o casamento. Não é o casamento em si, e durante este período o noivo e a noiva são ilícitos um para o outro. Portanto, eles precisam ser cuidadosos quanto aos limites divinos. Em suma, os noivos não devem se encontrar privadamente em lugares remotos nem conversar mais do que se espera deles antes do casamento! Atualmente, testemunhamos a devastação que acontece quando esta norma não é seguida.

A este respeito, gostaria de recordar a seguinte narrativa de Ibn ´Abbas:

“Allah, O Todo-Poderoso, criou Eva da costela esquerda de Adão. Durante a criação dela, Adão ( que a paz esteja sobre ele) caiu sonolento. Quando ele acordou e viu Eva próximo a ele, se apaixonou por ela e quis abraçá-la. Os anjos disseram, ‘Ó Adão! Não a toque. Vocês ainda não se casaram’. Então, eles se casaram e foi acertado que o dote de Eva seriam três saudações para o Profeta Muhammad (SAAS).”

Esta foi a primeira cerimônia de casamento da história. Com o pedido de bênçãos sobre o Profeta Muhammad (SAAS), a cerimônia de casamento adquire um sentido sublime e abundam as graças e manifestações de misericórdia divinas.

P – Você poderia compartilhar suas observações sobre a cerimônia de casamento?

A cerimônia de casamento é uma forma de partilhar a felicidade do matrimônio com amigos e parentes. Ela também serve para publicizar a união do casal. Além do mais, é bom que um momento tão importante, também seja uma oportunidade de entretenimento e alegria – que não deixam de fazer parte de nossa natureza.

Porém, devemos lembrar que cerimônias muito extravagantes, a ponto de arrasar financeiramente as famílias envolvidas, nunca serão aprovadas pelo Islam. O Islam é uma religião que clama pela moderação, até mesmo na eventualidade de se utilizar a água de um rio para ablução. Isto serve como encorajamento para que os muçulmanos sejam frugais. Consequentemente, mesmo que as famílias do casal sejam ricas, elas devem agir de forma a levar em consideração os pobres e necessitados das suas comunidades. Transformar cerimônias de casamento em teatros de ostentação, como muitas famílias ricas atualmente fazem, é uma manifestação de loucura e uma prova de que o Islam não foi propriamente internalizado.

As cerimônias de casamento devem ser apropriadamente realizadas com graça islâmica e refinamento. Elas devem se afastar de todo tipo de ostentação e desperdício. As pessoas devem ter cerimônias modestas de acordo com as suas situações financeiras. Mas utilizar tal evento para exibição de status financeiro contradiz o espírito e o objetivo do casamento.

Particularmente, misturar uma instituição tão abençoada com atos e costumes ilícitos, tais como o consumo de bebidas alcoólicas, leva as pessoas ao erro e à ignorância. Apenas aqueles encontros de casamento onde as leis de Allah e Seu Mensageiro são seguidas, são lugares abençoados onde as preces são aceitas. Algumas formas de entretenimento são inofensivas, desde que homens e mulheres não se misturem. As mulheres podem entreter umas às outras, e os homens podem fazer o mesmo uns com os outros sem que se cometa nenhum ato ilícito.

Outro ponto a se destacar é a importância de se convidarem os pobres, os necessitados e os desabrigados para a walima, a festa de casamento. Isto está expresso no seguinte hadith:

“A pior comida é aquela servida em um banquete de casamento para o qual somente os ricos foram convidados, ao passo que os pobres ficaram de fora. E aquele que recusa o convite para um banquete desobedece Allah e Seu Mensageiro.” (Bukhari, Nikah, 72; Muslim, Nikah, 107. Ver também Ibn Majah, Nikah, 25)

Deve ser lembrado que a comunidade islâmica recebe auxílio divino através das orações dos mais fracos. Portanto, os necessitados e destituídos em particular precisam ser convidados para a walima. Em uma ocasião, Moisés ( que a paz esteja sobre ele) orou para Allah, O Todo-Poderoso e pediu, “Querido Senhor! Onde devo te procurar?”

Allah, O Todo-Poderoso, respondeu, “Procure por mim entre os corações partidos.” (Abu Nu´aym, Hilya, II, 364)

As orações daqueles que estão destituídos e possuem corações partidos são aceitas na presença de Allah. Por isso, todos os muçulmanos devem cuidar para serem merecedores de suas orações, especialmente durante aqueles momentos nos quais realizamos coisas importantes, como o casamento. Também não podemos esquecer de pedir que os devotos orem por nós.

P – A quais questões os jovens muçulmanos e muçulmanas devem dar atenção particular de forma a salvaguardar o bem-estar das suas famílias?

Devemos estar cientes de que uma sociedade cresce nos ombros dos seus cidadãos do sexo masculino, mas que os do sexo feminino também contribuem para esse crescimento. Sem a ajuda dos homens e das mulheres, nenhum desenvolvimento ou ascensão pode ser atingido. Um home que é infeliz no lar, não pode ser produtivo no trabalho. Consequentemente, podemos dizer que uma nação se desenvolve através da experiência e maturidade das suas mulheres. O oposto disto também é correto: uma nação perde seu poder e valor através da degradação das suas mulheres. A história é cheia de exemplos neste sentido. Por isto, toda comunidade necessita de famílias saudáveis.

Embora os seres humanos tenham sido criados com a mais perfeita das naturezas, a manifestação da nossa perfeição numa personalidade desenvolvida só pode ser atingida num ambiente familiar saudável. A família é o primeiro lugar onde a personalidade humana é moldada. Apenas educação com uma educação apropriada as almas podem chegar a níveis elevados de desenvolvimento espiritual. Podemos tirar lições das vidas dos santos e profetas.

A alegria e a felicidade no lar dependem do respeito mútuo e da compreensão entre os cônjuges e da observação dos direitos de cada um. Também é muito importante que compreendamos o significado do versículo ittaqullah – “Tenha consciência constante da presença de Allah!”– se desejamos que haja felicidade na família.

Nosso mundo pode se tornar um paraíso se os direitos das mulheres forem respeitados; e também pode se tornar um inferno como resultado da violação dos seus direitos. O Profeta (SAAS) falou sobre a importância dos direitos das mulheres em seu Sermão da Despedida:

“Ó Povo, é verdade que possuís certos direitos em relação às suas mulheres, mas elas também possuem direitos sobre vocês. Lembrem que vocês as tomaram como suas esposas diante de Allah e com a Sua permissão. Se elas se conformarem com seu direito, então a elas pertence o direito de ser alimentadas e vestidas com bondade. Tratais bem as suas esposas e sejais bondosos com elas, pois elas são suas companheiras e auxiliares devotadas. E é seu direito que elas não tenham amizade com quem não aproveis, bem como é seu direito que sejam sempre castas.”  (Bukhari, Mukhtasar, X, 398)

Prevenir as mulheres de educarem gerações virtuosas forçando-as a ocupações que não se ajustam às suas naturezas é um erro grave. A felicidade em uma família só pode ser atingida pela proteção e pelo emprego das habilidades do homem e da mulher nas ocupações que melhor se ajustam às suas naturezas.

O Islam afirma a importância dos casamentos realizados por um ideal mais elevado. O casamento possui duas dimensões, material e espiritual. Precisamos ser sérios e cuidadosos se quisermos que nossas famílias sejam funcionais em ambas as dimensões. É muito fácil para o casamento se tornar unidimensional. Infelizmente, este tipo de casamento sempre termina em um divórcio infeliz, ou então continua como uma cadeia de agonia até o fim da vida. Naturalmente, estes não são os resultados que esperamos quando nos casamos!

O divórcio é descrito em um dos ditos do Profeta, como um incidente que estremece o trono de Allah:

“Casem e não divorciem, pois em verdade o divórcio faz estremecer o trono de Allah...” (Ali al Muttaqui, IX, 1161/27874)

Se um homem se divorcia de sua mulher simplesmente por sua própria conveniência e bel-prazer, isto é uma opressão e um grande pecado, o que é obviamente proibido no Islam. Esta atitude violaria o direito do outro servo de Allah, o que iria levar à destruição e ao eterno desapontamento.

O divórcio frequentemente segue-se a casamentos arbitrários e descuidados, os quais possuem resultados lamentáveis. O pior e mais severo destes resultados recai sobre os filhos. As crianças que não vêem afeto nas suas famílias e são expostas a frequentes abusos da parte de seus pais, que deveriam ser seus modelos na vida, vivem à mercê das ruas. Às vezes, eles fogem de seus lares e passam a viver nas ruas; em breve, elas caem na teia do alcoolismo, drogas, prostituição e criminalidade. E isto prepara o terreno para a destruição social.

Obviamente, por vezes o divórcio é a única opção razoável. Os casamentos católicos são indissolúveis e devem ser mantidos, não importa o quão deploráveis os cônjuges sejam. Os casamentos islâmicos, pelo contrário, são contratos legais com cláusulas que o anulam quando necessário. Todo acordo pode ser substituído por outro. Se não existir nenhuma saída para um casamento falido, a vida do casal se torna uma tortura. A união familiar, neste caso, não seria melhor do que um estado de escravidão.

O casal que não consegue encontrar soluções para os seus problemas torna-se desesperado e pode não ver as situações com clareza. Por isso, o Islam permite o divórcio, mas por princípio reserva o direito de divórcio para os homens, pois teoricamente eles possuem maior probabilidade de agirem racionalmente do que as mulheres. Porém, se tiver sido previamente estipulado no contrato matrimonial, não existe nenhum obstáculo que impeça que a mulher também exerça o direito de divórcio. Isto é conhecido na lei islâmica como tafwid al-talaq. Mesmo que o direito de divórcio não tenha sido estipulado no contrato, sob algumas circunstâncias a mulher ainda pode apelar para um tribunal para que seja realizado o divórcio.

De modo a se evitar o divórcio desnecessário, os casais devem apreciar a importância de cada um, assim como devem respeitar um ao outro. Boas lembranças, momentos felizes, bem-estar, tranquilidade e todas as coisas prazerosas na vida podem ser alcançadas sob a sombra da sabedoria divina. O sucesso irá se manifestar através da fidelidade mútua e da sinceridade. Está escrito nos ditos do Profeta (SAAS):

“Quando um homem acorda à noite, desperta a sua esposa, e ambos rezam juntos duas rakat, eles são registrados entre aqueles homens e mulheres que mencionam muito a Allah.” (Abu Dawud, Tatawwu, 18; Witr, 13)

“Que Allah mostre a sua misericórdia para um homem que se levanta durante a noite e ora, que desperta a sua esposa e ela ora; se ela se recusa, ele joga água em seu rosto. Que Allah mostre misericórdia para uma mulher se levanta a noite e ora, que desperta o seu marido e ele ora; se ele se recusa, ela joga água em seu rosto.” (Abu Dawud, Tatawwu, 17; Witr, 12)

De acordo com os ditos supramencionados, podemos concluir que a felicidade numa família depende de dois grandes princípios:

1. Sinceridade de ambas as partes

2. Mútuo encorajamento para a piedade.

P – Considerando tudo o que foi dito até agora, existe alguma família ideal que você poderia nos mostrar?

Dos muitos exemplos que podem ser dados, sem dúvida a família do Profeta Muhammad (SAAS) permanece à frente de todos. Da mesma forma que em todos os outros aspectos da vida, o Profeta demonstrava o melhor dos comportamentos na vida familiar. Ele era o marido perfeito e o pai perfeito. Sua abençoada esposa, nossa mãe Khadija, foi o mais excelente exemplo de esposa e mãe. Suas outras esposas foram bons exemplos também. Nenhum incidente negativo pode ser encontrado em sua vida familiar, embora houvesse algumas pequenas disputas entre suas esposas. Mas mesmo aquelas pequenas disputas foram resolvidas e terminaram bem, graças ao caráter exemplar do Profeta, e eles lançaram um exemplo para o todo da comunidade muçulmana.

Assim como a personalidade do Profeta foi a melhor das personalidades, o seu lar também foi o lar mais exemplar e ideal. A sua casa possuía tanta paz e tranquilidade, que até mesmo quando os membros de sua família ficavam sem nenhuma refeição quente à mesa por dias, cada visita era capaz de sentir a felicidade em seu lar. Não havia traço de luxúria: Nenhuma das suas esposas possuía mais do que um quarto modesto, e a refeição mais saborosa para elas era o contentamento, paciência e submissão. O método disciplinar que o Mensageiro de Allah (SAAS) aplicou em sua casa preenchia o coração de seus familiares com amor sem fim e lealdade. Nenhuma mulher era capaz de amar o seu marido tanto quanto as esposas do Profeta o amavam; nenhum marido podia amar sua esposa, tanto quanto o Profeta amava suas esposas. Nenhuma criança amava seu pai tanto quanto Fátima amava seu pai; e nenhum pai amava seus filhos tanto quanto o Profeta amava os seus.

O Mensageiro de Allah (SAAS) prestou a maior atenção para ser justo com todas as suas esposas. E mesmo tendo direcionado todos os seus esforços neste sentido, devido à dificuldade de se assegurar a justiça absoluta, o Profeta orava a Allah:

“Querido Senhor! Inadvertidamente, pode ser que eu ame uma delas mais do que as outras, e isto é desigualdade. Senhor! Eu me refugio em Tua misericórdia em relação a isto que eu sou incapaz de evitar.”

Querido Senhor! Agraciai-nos e a nossas famílias com uma vida piedosa que Te contente. Fazei de nossos lares um paraíso de bênçãos e felicidade. Fazei com que nossos lares não se assemelhem ao inferno.

Amin!


Resolvendo O Mistério Da Morte

Muhammad ibn Kab al-Qurazi transmitiu:

“Uma vez me encontrei com Omar ibn Abdulaziz em Medina, que era então um homem jovem, rico e bonito, Anos depois, quando virou Califa, eu pedi permissão para ir até ele. Entretanto, ao vê-lo, fiquei atônito e pude somente olhá-lo fixamente. Ele então me perguntou:

- Por que me olhas desta maneira, Muhammad?

Eu lhe respondi:

- Estás pálido. Envelheceste prematuramente, perdeste quase todo o cabelo, e o que ainda resta dele está branco. Não pude conter minha surpresa ao ver-te, Califa.

Ele respondeu:

- E que surpresa terias ao ver-me três dias após o meu enterro! As formigas teriam tirado meus olhos de suas órbitas e infestado minhas bochechas; meu nariz e minha estariam cheios de pus. Neste caso sua surpresa seria justificada”.  (Hakim, IV, 300/7706)

Mais que qualquer outra coisa, qualquer ser humano deve contemplar sua morte. Como exalará seu último suspiro? Com que se encontrará na tumba? Qual será a sua posição na Outra Vida? São os maiores mistérios que todo ser humano terá que se defrontar – compreender completamente o segredo da viagem, a sabedoria que subjaz em sua existência e, como consequência dela, seu caminho para a Outra Vida. Cada um de nós deveria se esforçar em solucionar estas perguntas e alcançar desta maneira a felicidade eterna.

Em primeiro lugar, devemos nos perguntar a respeito da morte, já que é um fato inquestionável que:

“Tudo o que está sobre ela é finito.” (ar-Rahman, 26)

Então chegará um dia desconhecido para nós no qual não haverá amanhã. Allah, glorificado seja Ele, nos disse:

“E a embriaguez da morte chegará, com a verdade. Dir-se-á ao moribundo: ‘Isso é o de que te arredavas!’ E se soprará na Trombeta. Esse será o Dia da Cominação.” (Qaf,19-20)

Todos entram neste mundo por uma porta, o ventre da sua mãe, e sua vida então se converte em uma espécie de corrida de obstáculos cheia de egoísmo ou espiritualidade. Depois de haver chegado ao final da pista e saído pela porta da tumba, cada pessoa faz a passagem para a vida eterna.

Desde os tempos de Adão, que a paz esteja com ele, até os nossos dias, o mundo, como uma casa de duas portas, não cessou de encher-se e esvaziar-se de incontáveis seres humanos. Onde eles estão agora? Onde nós estaremos dentro de pouco tempo? Não sabemos. Mas uma coisa é certa – a morte baterá na porta dos oprimidos e dos opressores, dos santos e dos pecadores, e serão reunidos na sala de espera da vida eterna – O Dia do Juízo Final.

Pense por um momento que o solo que você pisa está cheio de corpos de bilhões de seres humanos que já morreram. Corpos que já se tornaram pó, como bilhões de sombras amontoadas. Amanhã também seremos parte dessas sombras. Então, começaremos a vida eterna, uma viagem eterna. Pense novamente: Qual pessoa em perfeito juízo trocaria um momento pela eternidade?

A respeito da morte, o Todo-Poderoso declara no Sagrado Qur´an:

“Um dia, quando a virem, parecer-lhes-á como se não houvessem permanecido nos sepulcros senão o tempo de um anoitecer ou de seu amanhecer.”

Os versículos seguintes também falam sobre a brevidade da vida:

“Delicada é a vida, rápida, como um pestanejar,

Um pássaro levantou vôo, não o ouvimos, porém passou”

                                                                         (Asik Pasa)

Pode existir uma insensatez maior do que tratar esta vida como se ela fosse eterna, esquecendo o tesouro que vem logo após?

A Contemplação da Morte

O Profeta (SAAS) costumava enfatizar a necessidade de recordarmos a morte e sermos conscientes do perigo de nos perdermos nos assuntos deste mundo. Ele dizia: “É espantoso vermos como as pessoas se esforçam tão somente pela vida enganosa deste mundo, apesar de crerem na Outra Vida.”. (Qudai, Shihab’ul – Akhbar, n. 383)

Pensar na partida inevitável deste mundo, no fato de que teremos que prestar contas do que fizemos, seja bom ou ruim, com o castigo e a recompensa, nos distancia do erro e da tentação, e nos ajuda a realizarmos boas ações. Portanto, a contemplação da morte é um meio de aumentar a consciência, endireitar a vida e trabalhar pelo bem da nossa condição na vida eterna. O Profeta (SAAS) disse:

“Lembrai com frequência da morte, porque esta recordação vos purifica da maldade e aumenta o desapego a este mundo. Se pensais na morte sendo ricos, isto vos protegerá dos desastres que acompanham a riqueza. Se pensais na morte sendo pobres, estareis satisfeitos com vossas vidas.” (Suyuti, Yami’us-Saghir, I, 47)

Ele também disse:

“Proibi a visita às tumbas, Mas agora vos digo que o façais, porque esta visita vos recordará da Outra Vida”. (Tirmidhi, Yanaiz, 60; Muslim, Yanaiz, 106)

“Recordai a morte, os corpos e os ossos em decomposição. Aquele que almeja a Outra Vida abandona o brilho deste mundo.” (Tirmidhi, Qiyamah, 24)

“Allah ama aqueles que sempre se recordam da morte.” (Haizami, X, 325)

Em uma ocasião, um Sahaba perguntou ao Profeta (SAAS):

- Quem é o crente mais inteligente?

Ele respondeu:

- Aquele que sempre se recorda da morte e se prepara para o está para vir da melhor maneira. Esses são, verdadeiramente, os crentes mais inteligentes. (Ibn Majah, Zuhd, 31)

Como os Sahabas Contemplavam a Morte

Abu Bakr, que Allah esteja satisfeito com ele, disse uma vez em um sermão:

“Onde estão os jovens e belos que foram um dia admirados por todos? Onde estão os homens cheios de vaidade? Onde estão aqueles reis que rodeavam suas cidades de muros alto? Onde estão os heróis invencíveis dos campos de batalha? O tempo os consumiu e os assemelhou ao pó. Todos eles estão na escuridão de suas tumbas. Voltai a si antes que seja tarde, e começai os preparativos para o que virá depois da morte. Salvem-se! Salvem-se! (Ibn’ul-Jawzi, Zamm’ul-Hawa, p.668; Nadrat’um-Naim, III, 960)

Aisha, que Allah esteja satisfeito com ela, explicou:

“Uma vez imaginei o Fogo do Inferno e comecei a chorar. Vendo-me nesse estado, o Profeta, que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, me perguntou:

- O que está acontecendo, Aisha?

Respondi:

- Lembrei-me do Fogo.

E logo após perguntei a ele:

- Os Profetas se recordaram dos membros de suas famílias no Dia do Juízo?

- Haverá três momentos nos quais ninguém se lembrará de ninguém: Antes de saber se a Balança (mizan) é pesada ou ligeira; antes de saber se o Livro de suas Ações será recebida pela direita, pela esquerda ou por trás, até que ouçam ‘Aqui está, leia teu livro (al-Haqqa, 19); e quando virem a Ponte de Sirat, suspensa sobre o Fogo. Em ambos os extremos da Ponte haverá muitas espinhas duras e ganchos. Com eles, Allah agarrará a quem quiser e lançará ao Fogo. Ninguém poderá pensar em ninguém até que saiba se está a salvo desses ganchos ou não.” (Hakim, IV, 622/8722)

Usaid ibn Judair, que Allah esteja satisfeito com ele, um dos Sahabas mais virtuosos, costumava repetir às vezes:

“Se pudesse manter o estado em que hoje estou em cada uma dessas três ocasiões, seguramente mereceria o Paraíso: Enquanto estou lendo o Qur´an ou escutando sua recitação; ouvindo as palavras do Mensageiro de Allah, que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele; e vendo um funeral. Sim, desde então . . . sempre que vejo um funeral, sinto como se acontecesse a mim o que acontece ao morto . . . Levam-me para o mesmo lugar que levam ele. (Hakim,III,326/5260)

 Os Benefícios de se Contemplar a Morte

Como diz o hadith: “A morte basta como conselho”. Existe um ensinamento profundo para os que contemplam este fenômeno.

O amor excessivo aos prazeres deste mundo, e o desejo de fama e fortuna são sintomas de enfermidade espiritual. Algumas das consequências nefastas deste amor excessivo são a inveja, o orgulho, a hipocrisia e a avareza. A solução mais efetiva para nos protegermos contra estes defeitos são a contemplação da morte, da tumba e dos acontecimentos da Outra Vida.

O principal objetivo do tasawwuf é a luta contra o ego, a libertação da sua dominação danosa e a purificação do coração do amor por este mundo.  A contemplação da morte, de cinco a dez minutos, no wird diário, faz parte da prática de numerosas turuq.

O costume otomano de se construir os cemitérios dentro das cidades, ao longo das estradas e nos pátios das mesquitas, teria em sua origem o incentivo à contemplação da morte. Um viajante ocidental que não conseguiu evitar de comentar sobre este fato disse: “Os turcos vivem com seus mortos”.

A preparação para a Outra Vida mediante a frequente recordação da morte, e o afastar-se dos desejos do ego, ajuda a eliminar o remorso fatal que pode chegar com o último suspiro. O Todo-Poderoso nos fala que alguém que durante a agonia tem um momento de lucidez, inevitavelmente dirá, profundamente arrependido:

“Senhor meu! Que me concedas prazo até um termo próximo; então, darei esmola e serei dos íntegros”. (al-Munafiqun, 10)

Para evitar tal sofrimento, devemos abrir bem os olhos enquanto ainda nos resta tempo e oportunidade, e começar a preparação para a vida eterna, muita mais próxima do que imaginamos.

Hasan Basri, que Allah o tenha em sua misericórdia, depois de haver participado de um funeral, perguntou a alguém que estava ao seu lado:

“- Não parece que o morto está agora lamentando não poder voltar a este mundo para fazer mais boas ações, mais atos de adoração e arrependimento pelas más ações?

- Seguramente, respondeu o homem.

- Então, o que nos impede de pensar da mesma maneira?, respondeu Hasan Basri. (Ibn’ul-Jawzi,al-Hasan’ul-Basri).

Preparando-se para o Tremor da Morte

Hasan Basri, que Allah o tenha em sua Misericórdia, disse em uma ocasião:

“Existem duas noites e dois dias que são incomparáveis em relação aos outros dias e noites. A primeira destas noites é aquela que você passa entre os mortos, sendo que você nunca esteve entre eles. A segunda destas noites é aquela anterior ao Último Dia, que é o dia que não será seguido por nenhuma noite. Em relação aos dias, o primeiro deles é quando chega o emissário de Allah e te diz se Ele está agradado de você ou não, e se você está destinado ao Paraíso ou ao Fogo. O segundo dia é quando você recebe o seu Livro de Ações, pela direita ou pela esquerda, e logo após você é levado diante de Allah”. (Ver Ibn’ul-Jawzi, az-Zahr’ul-Fatih, p. 25; Abu’l-Faray Abdurrahman, Ahwal’ul-Qubur, p.154)

Shaykh Sadi disse:

“Finalmente, irás te converter em pó, irmão, portanto, antes que isto ocorra, procure ser tão humilde como ele”.

Umar, que Allah esteja satisfeito com ele, disse:

“Prestem conta de tudo entre vocês mesmos, antes que sejam chamados a fazê-lo diante de Allah. Adornem-se diante do grande tribunal com boas ações. O juízo daqueles que costumam prestar contas entre si será mais fácil na Outra Vida”. (Tirmidhi, Qiyamah, 25/2459)

Enquanto estão colocando nossos corpos sem vida na tumba, nossos filhos e nossas riquezas ficam para trás. Somente nossas ações nos acompanharão na profundidade da terra. Lá, nossos corpos se converterão em pó, assim como nossas mortalhas, e não restará outra coisa além das nossas boas ações.

Imam Ghazzali, que Allah o tenha em sua misericórdia, disse:

Somente três coisas nos acompanham na hora da morte:

A pureza do coração, ou seja, um coração purificado dos resíduos deste mundo. Allah disse:

قَدْ اَفْلَحَ مَنْ زَكّٰيهَا

“Com efeito, bem-aventurado é quem a dignifica”. (as-Shams, 9)

Familiaridade com a recordação de Allah, glorificado seja Ele, que disse:

اَلَا بِذِكْرِ اللّٰهِ تَطْمَئِنُّ الْقُلُوبُ

“Ora, é com a lembrança de Allah que os corações se tranquilizam”. (ar-Rad, 28)

O amor por Allah, glorificado seja Ele, que disse:

قُلْ اِنْ كُنْتُمْ تُحِبُّونَ اللّٰهَ فَاتَّبِعُون۪ي يُحْبِبْكُمُ اللّٰهُ
وَيَغْفِرْ لَكُمْ ذُنُوبَكُمْۜ وَاللّٰهُ غَفُورٌ رَح۪يمٌ

“Dize: ‘Se amais a Allah, segui-me, Allah vos amará e vos perdoará os delitos’. E Allah é Perdoador, Misericordiador.” (Al-Imran, 31)

A purificação do coração é somente possível através da marifah, conhecimento de Allah, glorificado seja Ele, através do coração. A Marifah, por sua vez, se adquire através da dedicação ao dhikr e à contemplação. Portanto, estes três fatores são os nossos salva-vidas”. (Ruh’ul- Bayan), XI, 274)

Se sabemos como fazer as preparações adequadas para “o amanhã”, a morte se converterá em algo belo – deixaremos de temê-la.

Bishr ibn Harith, que Allah o tenha em sua misericórdia, afirmou: “Que bela morada é a tumba para aquele que é obediente a Allah!”

Mawlana Rumi também aconselhou que se contemplasse a morte sem medo com estas belas palavras:

“A cor da morte, filho, está nos olhos de quem a vê. Aparece como um inimigo terrível e hostil aos olhos dos que a odeiam, sem pensar que é ela que os unirá ao Senhor. Aos que a amam, ela aparece como um amigo.

Oh, alma, que foge aterrorizada da morte! Se queres ouvir a verdade, não a temas realmente. Teme a ti própria.

Porque não é a face da morte o que vês no espelho, mas o teu próprio rosto feio. Teu espírito é como uma árvore, e a morte é como uma de suas folhas. E cada folha pertence à sua própria espécie de árvore.”

Em suma, nossa morte e a experiência da tumba, que durará até a Ressureição, terão o aspecto da forma com que temos vivido e dos atos que praticamos. Por esse motivo, Allah, glorificado seja Ele, nos explica em numerosos versículos do Sagrado Qur´an, a essência da vida deste mundo e do Outro, nos urge a não sucumbirmos diante dos brilhos e enganos do primeiro, e ainda nos exorta a pensar muito em seu inevitável fim. Ele quer que nos voltemos conscientemente para a vida eterna, uma vida que se aproxima a cada passo dado.

Portanto, é necessário que antes da morte a pessoa se arrependa sinceramente de todos as suas más ações e conserte todos os seus defeitos obedecendo ao mandato e às proibições do Todo-Poderoso. Da mesma maneira, é necessário que sejam restituídos os direitos a todas aquelas pessoas que foram prejudicadas injustamente. Ou seja, antes da morte deve se obter o perdão de todos aqueles que foram feridos, verbal ou fisicamente, e daqueles contra os quais se agiu de forma maliciosa. E mais, deve-se estar livre de qualquer dívida, seja física ou espiritual.

Um homem ignorante pode se regozijar de haver infringido os direitos das outras pessoas, vendo em seu comportamento corrupto um motivo de satisfação. No entanto, seu remorso será incomensuravelmente grande no dia em que a Balança da Justiça for estabelecida e se diga: “És um homem perdido, vil, arruinado. Agora não podes restituir nenhum direito tampouco pedir o perdão de ninguém”.

Quando estava moribundo, Abdulmalik ibn Marwan, o califa omíada, viu uma lavadeira enrolando as roupas ao redor da mão e esfregando-as em uma pedra para lavá-las. Ao se recordar do tribunal do Dia do Juízo, o califa disse a si mesmo em um suspiro de lamento:

“Quem dera eu fosse uma lavadeira! Quem dera tivesse ganhado a vida com minhas próprias mãos e não tivesse tido nenhum envolvimento com os assuntos do mundo!” (Ghazzali, Ihya, VI, 114)

Ao mesmo tempo em que nos preparamos para a hora da morte, também é necessário não perdermos a esperança na misericórdia de Allah, glorificado seja Ele.

Uqba al-Bazzar disse:

“Um beduíno que estava ao meu lado observando um funeral, fez o seguinte comentário ao ver o caixão passar junto a nós: ‘Parabéns . . . Você possui toda a felicidade do mundo!’

‘Por que você está parabenizando ele?’ Eu perguntei.

‘Como eu não irei congratular uma pessoa que está sendo levada diante de um Guardião Eternamente Generoso, que trata seus convidados de forma esplêndida, e cuja Misericórdia não possui limites?’

Tive a impressão de que haviam sido as palavras mais belas que eu já havia escutado.” (Abu’l-Faraj, Abdurrahman, Ahwal’ul-Qubur, p.155)